Imagine um lugar histórico do centro de São Paulo: a Praça do Patriarca, da República,ou o Vale do Anhangabaú.Imagine uma favela nascendo em um desses locais, com seus barracos improvisados sendo erguidos por cerca de 2000 pessoas, moradoras da então maior ocupação vertical da América Latina, a Prestes Maia.
Esse cenário pode em breve se tornar realidade caso a reintegração de posse do imóvel se concretize e o poder público não ofereça uma alternativa digna às 468 famílias que vivem no Prestes Maia desde 2002, preferindo expulsá-las na tentativa de mantê-las longe da região, que ora passa por um processo de 'revitalização' extremamente gentrificador e excludente.
Mesmo sendo um sonegador de impostos, devendo um IPTU que ultrapassa os R$ 5 milhões, e abandonando o imóvel à especulação imobiliária por quase 15 anos, o proprietário tem a justiça do seu lado. Apesar de a Constituição Federal garantir que todo imóvel deve ter uma destinação social e que todo cidadão tem direito à moradia assegurado pelo Estado; a Prefeitura de São Paulo, os Governos Estadual e Federal continuam sem propostas concretas para oferecer às famílias organizadas no movimento popular.
Essas famílias deram função social ao imóvel: retiraram 200 caminhões de lixo e entulho do prédio, se organizaram na manutenção da limpeza e segurança, afastaram o tráfico de drogas e criminalidade, tornaram o ambiente 'familiar' e repleto de atividades – hoje há uma biblioteca no prédio, programas de reciclagem, de educação, intervenções e oficinas culturais - e o Prestes Maia pulsa no centro da cidade, que pertence e é construída todos os dias pelos mesmos homens e mulheres que sobem e descem os 22 andares de escada do prédio logo cedo rumo ao trabalho, dividem banheiros coletivos, se solidarizam com as necessidades dos vizinhos, organizam festas para celebrar a união dos moradores e juntos lutam por dignidade e resistem a imposição feroz do capital especulativo, do poder coercitivo e de uma opinião pública manipulada que teima em pregar rótulos pejorativos nesses cidadãos.
Os movimentos de luta por moradia em São Paulo nunca exigiram esmolas: a reivindicação é pela inclusão de famílias de baixa renda em programas habitacionais que devem ser implantados pelos três níveis de poder. Dinheiro há, faltam vontade política e preocupação com o social em detrimento a projetos eleitoreiros e capitalistas. Como afirmou o Secretário da Habitação do município, Orlando Almeida Filho, "Essas pessoas [entende-se, os pobres] não vão consumir, não vão ao Mappin comprar gravata, não vão no teatro comprar ingresso, e assim por diante, e (se eles continuarem ali) o que vamos ter na região central, uma favela nova, um cortiço novo?" (em entrevista à Caros Amigos – nov/05) . A resposta é sim! As famílias do Prestes Maia continuarão vivendo no centro, onde a maioria tem seu trabalho informal, as crianças e adolescentes estudam e onde construíram suas relações sociais. A CIDADE LHES PERTENCE COMO A TODOS QUE AQUI VIVEM. A resistência se dará em forma de acampamentos no centro e manifestações políticas, para insatisfação do ilustre Secretário, autor de 'pérolas da segregação e autoritarismo'.
A sociedade precisa se manifestar contra o projeto higienista da cidade – que não condiz com a cidade que queremos e trabalhamos para construir - e apoiar a garantia dos direitos humanos das 2000 pessoas que vivem no Prestes Maia!
Temos que lutar juntos!
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