24 julho 2012

A inofensiva Caneta está para a Propina assim como a inofensiva Maconha para a Cocaina

Tudo se resolve na reação à primeira ação. Se a reação para o primeiro trago da maconha foi "legal, gostei, mas prá mim tá bom" e fica nisso, não haverá outras drogas no futuro. Por outro lado, "mas é só isso? não tem nada mais louco, não?" é o passaporte pra continuar a escalada ao limite.
Da mesma forma há duas reações para a canetinha que o síndico recebe de brinde de qualquer fornecedor de serviços e produtos. "Valeu, obrigado. Vou entregar pro meu sobrinho, ele vai gostar" é uma reação inteligente a esse presentinho insosso. Porém muitos respondem: "mas... só essa canetinha?".
E abre-se mais uma porta para a relação "faustiana" de um novo corrupto que vendeu sua alma na lama da propina para alcançar seus (e de seus próximos) fins escusos.
Enquanto houver rato que gosta desse tipo de carniça, esse Fausto não morre nunca.

16 julho 2012


TEMPORADA DE MORTES

Caetano Veloso
Chico Buarque
Gal Costa
Maria Bethânea
Belchior
Rita Lee
Jorge Mautner
Luis Melodia
Edu Lobo
Gilberto Gil
Tom Zé
...


Claro que faltam nomes aí em cima, mas são em sua maior parte oriundos dos anos 60, conhecidos senão no mundo todo, pelo menos na maior parte do Brasil, e todos eles – se eu for bom de matemática, por volta dos 70 anos, que sabemos ser uma idade onde nem tudo são flores.
Não tenho aqui interesse em ser dramático, nem amigo de coveiro, mas desde Tom Jobim não temos perdas na MPB em nível internacional. Tudo bem, vão lembrar de Wando, mas convenhamos: comparar Wando com Tom Jobim, nem vou comentar.
Meu pensamento segue noutras pairagens – neste Brasil varonil famoso em saber destruir muito melhor que construir. Sistema “Pinheirinho” de fazer cultura. Como diz o bordão: “Pinheirinho somos todos nós!” Esta frase é reveladora, significa que todos nós estamos sendo destruídos e ninguém lembra o que houve. Como nossos ídolos (“ainda são os mesmos”) e os Pinheirinhos nos deixam em longos hiatos de tempo, talvez não percebamos a importância que a existência destes nos proporciona.
Basta ver fotos do Anhangabaú de hoje com o Anhangabaú de 1920 para entender o que significa destruir os “Pinheirinhos”. Assim desaparecem nossos ícones, nossos ídolos, nossas histórias e lembranças.
E aí vem a reflexão: para nascer todos levam a princípio o mesmo tempo, vá-lá, os 271 dias normais. Mas prá morrer, bem... basta estar vivo.
Lembro do meu avô, 78 anos, ligou para VEJA, reclamando que ela não chegou, e deste jeito teve um ataque cardíaco (acho que essa expressão não existe mais) fulminante e do jeito que reclamou, ficou sentado na cadeira.
Ou meu tio vivendo em uma cidade do interior do Paraná, ótimo padrão de vida, nem 50 anos completos, saiu da porta de sua casa, indo até o portão para buscar o leite que foi entregue e lá ficou, dessa para melhor.
Aí pensei: já pensou? vai que... (parafraseando aquele comercial) – vai que Deus, se realmente há um Deus, decide nos fazer cair na real, e leva todos eles ao mesmo tempo? Ou com diferenças mínimas de dias entre um e outro? Como este país vai ficar? Quem iremos ouvir? Com quem iremos sonhar?
Por isso gosto de lembrar daquela música que diz que “o melhor lugar do mundo é aqui e agora”. O que lamento é que nós achamos que essas pessoas são imortais, que nunca irão desaparecer, assim como os Pinheirinhos, vieram para ficar, e de repente não estão mais lá. Pensamos alguns dias sobre isso e esquecemos. Queria ver quanto tempo levaria um pensamento se perdêssemos todos eles de repente.
Querer ir a um show que não vai mais ter, ouvir uma entrevista que não vai acontecer, ler um texto de algum deles que não será mais escrito.
E saber o que a história (não) nos reserva, fazendo-nos lembrar partes de um e nada de outros, como sempre, como tudo.
Talvez pela vergonha e pelo constrangimento que passamos diariamente ao ver como este país é administrado por nossos políticos, não sabemos valorizar o que temos, apenas o que perdemos. Igual a antigas namoradas, ou antigos namorados, e assim vai. Espero que não passemos por isso, mas...
Vai que...